sexta-feira, 6 de agosto de 2010

RECURSOS ERGOGÊNICOS PARA EMAGRACIMENTO.

A obesidade é uma doença de etiologia multifatorial caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. O número de casos de indivíduos obesos cresce assustadoramente até mesmo no Brasil onde mais de 45% da população já apresenta algum excesso de peso. Entre os aspectos contribuintes para o desenvolvimento da obesidade encontram-se: a evolução tecnológica com a tônica no sedentarismo, o stress e o consumo de alimentos cada vez mais pobres em nutrientes e ricos em energia e gorduras (BOUCHARD, 2003; DÂMASO, 2003).
Se por um lado a obesidade tem tomado proporções alarmantes os cuidados com a estética por outro lado tem conquistado um grande número de adeptos. A promessa de obter um corpo bonito e saudável tem sido oferecida por centenas de dietas, academias, tratamentos estéticos. Vivemos um momento no qual a estética vem sendo super valorizada onde apenas mulheres magras e homens de físico definido são considerados saudáveis e bem sucedidos. A preocupação com baixos percentuais de gordura e com uma estética cada vez mais definida tem criado um mercado significativo para a comercialização de recursos ergogênicos (R.E.), cuja proposta é a de reduzir o percentual de gordura corporal. Nesse contexto é preciso cautela antes de aderir a algum novo tratamento “milagroso”. Centenas de estratégias mirabolantes prometem resultados supreendentes em curto espaço de tempo. Mas será realmente possível anos de maus hábitos de vida (sedentarismo, má alimentação, estresse) podem ser subitamente revertidos com dietas e suplementos que prometem “derreter a gordura e expulsar as toxinas” em menos de 1 mês? Tais promessas têm levado um grande número de indivíduos a complicações em sua saúde que vão desde uma gastrite, hipercolesterolemia podendo até mesmo chegar a uma nefrite.

Os recursos ergogênicos são definidos como facilitadores da produção de trabalho e têm freqüentemente sido utilizados com o objetivo de melhorar o desempenho humano (WILLIAMS, 1999).
A indústria, aproveitando este mercado tem lançado produtos com propostas miraculosas. Faz-se necessário então conhecer o mecanismo de ação e principalmente a segurança na utilização dos recursos ergogênicos disponíveis para o consumo.
Entre os mais conhecidos encontram-se: L-carnitina, Picolinato de cromo, Cafeína, Efedrina e alguns fitoterápicos. Nem todos os recursos ergogênicos utilizados atualmente são considerados pela legislação brasileira como alimentos para praticantes de atividades físicas e nesse caso só poderão ser prescritos pelos profissionais qualificados, outros tantos são considerados proibidos pelo Comitê Olímpico Internacional. Entre os R.E. permitidos destacam-se a L-carnitina, o picolinato de cromo, o CLA, a cafeína, a efedrina e os fitoterápicos.
A carnitina é um composto hidrossolúvel com ação vitamina-símile e tem sido muito utilizado por praticantes de atividades físicas com o objetivo de aumentar a queima de gordura (fat burning). Baseados no fato de a carnitina ser um dos componentes do sistema enzimático que controla a entrada de ácidos graxos no seu sítio de oxidação (mitocôndria) muitos profissionais e curiosos tem-na utilizado numa tentativa de aumentar a oxidação lipídica durante a atividade física (BACURAU, 2001; WILLIAMS, 1999; GAVINO, CORDEAU, GAVINO, 2003).

A L-carnitina tem um valor plasmático de 40-60mM, enquanto a concentração intramuscular é de 3-4mM. Está comprovado que a intensidade do esforço pode alterar a captação e utilização da carnitina pelos músculos e assim alterar a concentração de carnitina livre circulante através de um processo de retroalimentação. Parece que o consumo de carnitina sob a forma de suplemento aumenta a concentração plasmática, mas não induz elevação proporcional no conteúdo intramuscular da mesma (CURI, POMPÉIA, MIYASAKA, PROCOPIO, 2002; NIU, JIANG, SHU, LIU, YAO, JIANG, LI, LONGO, 2002).

A utilização da carnitina como recurso ergogênico é um tanto controversa na literatura. Vários autores têm sugerido que a sua utilização se dá sem evidência científica de que ela efetivamente reduziria a gordura corporal (CURI et al, 2002; CARRASCO, 2000). Por outro lado alguns autores encontraram eficiência na utilização de carnitina tanto no controle do peso, redução da gordura corporal, melhora da performance, quanto no controle das dislipidemias (RODRÍGUEZ De ROA, MENDIBLE, CÓMEZ, MENESES, MATHISON, 1997; De REZENDE GOMES, TIRAPEGUI, 2000). É possível que as diferenças encontradas entre os autores se dê graças às diferenças nas doses administradas e no controle dietético e das atividades físicas realizadas pelos indivíduos avaliados.

O Cromo é um mineral essencial na nutrição humana e tem sido muito utilizado como suplemento esportivo, por seu efeito auxiliar nos receptores de insulina tornando-os mais potentes favorecendo a captação de aminoácidos, glicose e triglicerídeos pelas células. Por seu efeito na tolerância à glicose, a suplementação de cromo tem sido bastante indicada para pacientes portadores de diabetes tipo I e tipo II (LAMSON, PLAZA, 2002). O cromo favorece ainda a incorporação de cálcio nos ossos e da formação de colágeno. A utilização do cromo por praticantes de atividades físicas é ainda incentivada pelo aumento de sua excreção graças aos exercícios e por seu consumo ser insuficiente nas alimentações pobres em fibras e ricas em gorduras e açúcares. Algumas boas fontes de cromo são: cereais integrais, melado, nozes, aspargos, cogumelos e queijos (WILLIAMS, 1999; BACURAU, 2001; BACURAU, NAVARRO, UCHIDA, ROSA, 2001; MAUGHAN, BURKE, 2004). Apesar de seus referidos efeitos no metabolismo a sua utilização é questionada por vários pesquisadores no que concerne à eficiência e segurança. Campbell, Joseph, Anderson, Davey, Hinton e Evans (2002) não observaram qualquer efeito uso de picolinato de cromo na composição corporal de mulheres idosas. Outros grupos de pesquisadores também não encontraram qualquer benefício com a suplementação de cromo visando o emagrecimento em diferentes grupos populacionais (PITTLER, ERNST, 2004; HAHN, STRÖLE, WOLTERS, 2003; VINCENT, 2003). Os suplementos de cromo são comercializados principalmente nas formas de nicotinato ou picolinato de cromo. O picolinato é um derivado natural do triptofano que apresenta uma alta biodisponibilidade, mas parece ter uma maior toxicidade

Apesar de sua indicação inicial para aumento de massa magra, atualmente estes suplementos têm sido comercializados principalmente com o objetivo de reduzir o tecido adiposo. A necessidade diária de cromo é de 50-200mcg e a dose diária recomendada é de 100-200mcg/dia (VINCENT, 2003; BAGCHI, STOCHS, DOWS, BAGCHI, PREUSS, 2002; CAMPBELL, JOSEPH, ANDERSON, DAVEY, HINTON, EVANS, 2002; PITTLER, ERNS, 2004; HAHN, STRÖHLE, WOLTERS, 2003; LAMSON, PLAZA, 2002).

A cafeína por ser amplamente utilizada há muito tempo é uma droga considerada aceitável como parte da alimentação humana. De ocorrência natural, faz parte da dieta diária da maioria da população podendo ser considerada como a substância estimulante mais consumida em todo o mundo. É considerada proibida pelo Olympic Movement Anti-Doping Code. Atua: estimulando o sistema nervoso central, o músculo cardíaco, a atividade e liberação da epinefrina, o músculo esquelético, o metabolismo do cálcio, a atividade da bomba de sódio e potássio, a elevação do AMP-cíclico e a ação de algumas enzimas como a fosforilase do glicogênio. Principalmente graças aos seus efeitos nas catecolaminas e no AMP-cíclico, a cafeína aumenta a lipólise tanto no tecido adiposo quanto no muscular. Os resultados em resposta ao consumo de cafeína são extremamente variáveis e surpreendentemente não parecem ter relação com a utilização habitual de cafeína. Além disso, não são observados benefícios com o consumo de quantidades maiores. A recomendação do uso de cafeína é de 5-6mg/kg 1 hora antes das atividades físicas. Há ainda uma observação de que doses menores 1-3mg/kg durante a prova poderiam ser suficientes para promover uma melhoria do desempenho. A ingestão de 9mg/kg ou mais são suficientes para promover uma concentração urinária de 12mg/mL que é a quantidade detectada no exame anti-doping. Entre os efeitos colaterais observados estão: insônia, dores de cabeça, irritação, sangramento gastrintestinal, aumento da diurese e em doses elevadas aumento da incidência de câncer de bexiga (McARDLE, KATCH, KATCH, 1999; WILLIAMS, 1999; BACURAU, 2001; BACURAU, NAVARRO, UCHIDA, ROSA, 2001; MAUGHAN, BURKE, 2004).

Efedrina é um medicamento que exerce ações vasocontritora periférica, broncodilatadora e estimulante central. A sua indicação é para formas leves de doença das vias aéreas. Entre os efeitos adversos potenciais são: palpitações, elevação das pressão sangüínea, insônia, anorexia e dificuldades urinárias. Ela tem sido freqüentemente utilizada em associação com cafeína para promover perda de peso ou para melhorar o desempenho atlético. Entre 1998 e 1999 a Food and Drug Administration (FDA) registrou mais de 2000 eventos adversos atribuídos a efedra. Entre os eventos, 29 mortes foram associadas com a efedra ou efedrina. Um encontro realizado em 1997 deliberou que deveria haver no rótulo dos produtos contendo efedrina uma afirmação de que “tomar mais do que a porção recomendada pode resultar em ataque cardíaco, derrame, convulsão ou morte”. Por objeções da indústria estas medidas jamais chegaram a ser implementadas (SHULZ, HÄNSEL, TYLER, 2002).

A utilização de recursos ergogênicos nutricionais para emagrecimento tem sido justificado uma vez que os prejuízos no que se refere à obesidade estão bem estabelecidos. A obesidade e a síndrome metabólica apresentam maiores complicações quando há um acúmulo maior de gordura abdominal e alteração do metabolismo da glicose e dos lipídios séricos. Os RE contemplados têm como objetivo melhorar a composição corporal e ainda interferir no metabolismo de glicídios e lipídios. A literatura é ainda bastante controversa no que se refere à ação e benefícios destes suplementos o que favorece um grande número de pesquisas de campo e de revisão.

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